segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Father Muller Medical College Hospital


E estão completas as duas primeiras semanas de trabalho em Mangalore, no Father Muller Medical College Hospital (FMMCH)! É um hospital católico, de caridade e economicamente situa-se algures entre o público e o privado. Tem aproximadamente 1250 camas e estão disponíveis a maior parte das especialidades e exames auxiliares de diagnóstico.
A entrada principal
Os diferentes edifícios que fazem parte desta instituição

Escola de Enfermagem

A Biblioteca é enorme e óptima para estudar!
A igreja tem uma posição central

A primeira fase foi a das burocracias, entre papéis e formulários, fotografias e fotocópias do passaporte... Aparentemente os indianos herdaram as formalidade e burocracias do colonialismo britânico! Após várias idas a inúmeros gabinetes, finalmente somos oficialmente “guest students” do hospital! E com nomes e fotos em versão indiana! ;)

Mr Philipe Machado and Ms Patricia Corniero

Viemos para o FMMCH por indicação de um antigo colega do Prof. Ponte, que depois de ter trabalhado em vários locais voltou para a Índia. É cirurgião cardíaco no FMMCH e num outro hospital na cidade. Para nós tem sido uma grande ajuda, mesmo fora do hospital, preocupou-se em orientar-nos na chegada à cidade, apresentou-nos ao serviço, facilitou a procura de alojamento e das viagens de comboio e é para nós a pessoa de referência se houver algum problema maior.
Na componente médica, quando tem cirurgias mais interessantes convida-nos para ir assistir e enquanto lá estamos, explica o que vai fazendo e preocupa-se em que estejamos a perceber, até porque normalmente são cirurgias complexas e algo demoradas.


Nesta cirurgia fizeram um bypass coronário (CABG), com o coração a bater, algo que mesmo na Europa é pouco frequente.

Nesta primeira fase, vamos estar enquadrados no serviço de Cardiologia durante 3 semanas, sob a orientação do Director de serviço, que também faz parte do Indian College of Cardiology como um dos 6 Governing Council Members, e a Índia é um país bastante grande!
Apesar de ser um médico muito solicitado, o Dr Prabhakar tem estado bastante disponível para estar connosco e com o médico interno que está a acompanhá-lo. Diariamente vemos os doentes e discutimos os casos nas visitas médicas, treinamos o exame objectivo do doente (e os indianos são muito mais detalhados nisto que nós), temos momentos de discussão teórica e interpretamos ECG's, radiografias torácicas e ecocardiografias. Nos "tempos mortos" basta-nos ir à sala de Cardiologia de Intervenção que de certeza há uma arteriografia ou uma valvuloplastia que podemos ver!

A entrada da Cardiologia de Intervenção
Uma das grandes vantagens de fazer o elective na Índia é que aqui conseguimos ver bastante semiologia que até agora apenas tinhamos tido contacto em livro. Como o acesso aos cuidados é menor, as pessoas chegam ao médico numa fase de doença mais avançada do que estamos habituados e com sinais e sintomas mais exuberantes. Claro que para os doentes isto não é bom, mas tem proporcionado momentos de aprendizagem bastante úteis!
Por outro lado, temos percebido que os Indianos investem bastante mais que nós no exame objectivo, procuram realmente todos os sinais possíveis e os livros pelos quais eles estudam são ainda mais detalhados dos que os nossos nesta secção. 
Como o clima é tropical e há muitas pessoas muito pobres, que vivem sem as condições consideradas básicas (e o padrão de condições básicas é claramente diferente do nosso), acabamos por ver imensa patologia infecciosa (cardíaca e não só) e valvular.

A pouco e pouco vamos ficando com o ouvido mais treinado!
Encontramos imensas infecções mesmo estando na Cardiologia
A dar os primeiros passos na Ecografia
Aqui, todas as discussões médicas são em inglês e isso facilita imenso a nossa integração e participação (a não ser quando o sotaque indiano é mais marcado e dificulta um bocadinho!). Esta semana houve 2 momentos de discussão de caso, em que se juntam o especialista, o médico interno e nós como alunos numa sala com o doente. A história clínica é apresentada e são discutidos aspectos teóricos relacionados. Ao mesmo tempo vai-se observando na pessoa os sinais que se vão descrevendo.

Para a pessoa, é 1 hora dentro de uma sala a ouvir termos médicos estranhos e a ser observado por vários médicos, mas os doentes não se parecem importar. Em termos de aprendizagem, este método é interessante porque permite confrontar diretamente se as técnicas de exame físico são correctamente realizadas e em seguida perceber a explicação por trás das mesmas.

Temos também assistido às consultas externas, que são feitas por todos os médicos simultaneamente na mesma sala com um fluxo enorme de doentes a entrar e sair. São vistos mesmo muitos doentes, mas com muito menos privacidade e tempo dedicado a cada pessoa. Acaba por fazer sentido neste contexto.


Algumas diferenças interessantes:
  • Ida para o Hospital
De riquexó! Há sempre um a passar e são baratíssimos, uma óptima maneira de começar o dia e fazer os 15 min para o hospital, a levar com o vento e a brisa dos escapes na cara.



  • Zonas limpas
Para entrar em zonas limpas, como a sala de cateterização ou os blocos, temos que tirar o calçado da rua e mudar para calçado específico. Até aqui, nada de novo... Ou então... Como explicar isto? Bem, o melhor é mesmo mostrar:

As "socas" de cá, também conhecidas por… Havaianas!
Espera-se que não pingue sangue para os pés!

  •   Os processos e a relação com o dinheiro
Aqui é tudo em papel e feito à mão, nada diferente do que seria de esperar:


O que é diferente é que, pelo facto de não ser um hospital do governo, as pessoas tem que pagar parte dos seus cuidados. Isto é, todas as pessoas são atendidas, mas a componente de caridade do hospital apenas assegura os cuidados médicos mínimos indispensáveis enquanto há camas disponíveis. Mas não assegura os procedimentos invasivos/ exames complementares de diagnóstico necessários. E é o médico que tem que gerir estas situações financeiras, o que nos parece um trabalho terrível! No entanto, para eles é normal discutir com os doentes se eles têm ou não capacidade financeira para pagar os tratamentos e aceitar que o cuidado prestado dependa da capacidade de pagar.
De facto, temos assistido a muitos casos de enfartes que apenas recebem tratamento farmacológico porque a maior parte das famílias aqui não pode suportar os custos de uma angioplastia.

Dentro do processo, a folha de custos de cada visita médica/intervenção

  • Um aviso à entrada do hospital     

À primeira, também estranhámos! Mas tem uma razão de ser! 
As pessoas levavam os cocos para o hospital para dar a beber a água de coco aos seus familiares doentes. Claro que, como a maior parte do lixo aqui, a parte de fora do coco segue directamente para o chão, e normalmente até fica com a abertura para cima. 
Quando chove, enche de água, ficando exactamente com as condições que os mosquitos gostam para se replicarem! E com os mosquitos, as doenças das quais eles são vectores! Assim, tiveram que cortar completamente com os cocos no hospital como medida de higiene, principalmente anti-Malária!

  • Os almoços
Têm sido na cantina do hospital, sempre os mesmo 8/10 pratos, seja ao pequeno-almoço, almoço ou jantar. Por enquanto ainda não nos fartámos, e como estamos cada vez mais habituados ao picante, começamos a conseguir distinguir os sabores por trás daquele ardor na boca e dos olhos a chorar. Quanto ao preço, tem ficado entre 45-85 rupias (0,50€-1€)... Para os 2, claro! 
Aqui come-se normalmente com a mão (a direita, que a esquerda está reservada para outro tipo de trabalhos menos limpos), o que deixa sempre os dedos com uma cor que depois custa a sair! Mas na cantina até nos têm dado garfos!

A entrada da cantina
Algumas das iguarias que temos experimentado

Prato bem arranjado, mas com um ar assassino de tanto picante!
As Parotas também são muito comuns aqui
Vamos agora entrar na última semana de Cardiologia em Mangalore e a seguir começamos na Medicina Tropical, aí sim com doenças bem diferentes do que estamos habituados! Mas não podíamos deixar este Hospital e esta cidade sem ver como eles fazem chegar a ajuda médica às comunidades rurais aqui à volta e às pessoas que não têm condições financeiras para aceder aos cuidados hospitalares. Mas isso fica para os próximos posts!


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Bomba-aí!

Depois de uns dias de descanso no Dubai, a verdadeira aventura começou.
Chegámos a Bombaim (actualmente Mumbai) no dia 12 de Dezembro, após umas horas de sono no aeroporto e avião às 4 da manhã. Saímos do aeroporto às 9h e já estariam o que nos pareceram uns 30ºC na rua. Depois de lermos em todo o lado na internet “não aceitem ajuda de indianos no aeroporto, vão tentar enganar-vos” tentámos evitar qualquer tipo de aproximação, em vão porque mesmo negando todo o tipo de ajuda, arrancam-nos as malas das mãos oferecendo-se para as levar ao taxi e pedindo quantias ridiculas por carregarem as malas uma distância de 20m contra a nossa vontade. Mas não se pode generalizar e, de facto, um estrangeiro precisa sempre de ajuda ao chegar a uma grande cidade da Índia e foi realmente útil a ajuda de um empregado do aeroporto.
Do aeroporto ao centro de Mumbai (35 km) demorámos 1h30 e pagámos 700 rupias (+/- 8,50€).
Depois de encontrar um hostel bastante acima das nossas expectativas e que nos pareceu seguro para os 3 dias que lá passámos, era altura de conhecer a cidade:


O Hostel "Salvation Army" em Mumbai

O Mercado de Crawford, em Mumbai

O Filipe encontra família em todo o lado - primos afastados

"Gateway of India"


Os barcos entram e saem de Mumbai pelo histórico Gateway of India
Taj Mahal Palace


Caminhando pelo Marine Drive

Decididamente criativo!
Junto à Marina de Mubai, um dos sítios mais coloridos da cidade

A passear o macaco


Pelas ruas de Mumbai
Uma das imensas formas de transporte aqui.
A mania que eles têm de tirar fotos connosco... às vezes a fazer estas figuras!
A chegada à Elephanta Island, uma ilha a 1h de barco desde o centro da cidade... em boa companhia!


Entrada de um dos templos escavados nas rochas na Elephanta Island

Muito cuidadinho!
BBC Vida Selvagem

Medo, eu?!

E não é que tem mesmo que se ter cuidado?!
Como pudémos perceber, cada local da Índia tem a sua própria cultura e gastronomia, pelo que não podiamos passar sem conhecer alguns dos cozinhados típicos de Mumbai. No fundo, até agora, achamos que todos são visualmente diferentes mas o sabor a picante que não deixa distinguir o frango ou os vegetais lá no fundo é sempre o mesmo! Talvez daqui a umas semanas já com alguma habituação seja melhor =).


O pequeno almoço do Hostel, que o Filipe decidiu misturar numa só sandwich (sim, doce de morango com ovo cozido...)

Claro que tinha que haver um destes!
O almoço do hostel... Nhamy!

Sandwiches de vegetais feitas no meio da rua...

... e servidas em folha de jornal!
O nosso último (e melhor) jantar em Mumbai: Nan (pão) de alho, Tandoori chicken, arroz e vegetais

À porta do hostel fomos convidados para participar num filme de Bollywood, que no fim foi adiado para um dia depois da nossa partida, pelo que não pudemos mostrar-vos aqui fotos ou vídeos da nossa participação naquelas danças típicas dos filmes indianos (ou pelo menos da minha participação, porque ninguém me tira da cabeça que quando lá chegássemos o realizador ia dizer que não precisava de mais um indiano no filme e só me escolhia a mim!). Talvez numa próxima cidade...

Estação de comboios de Mumbai (Victoria Terminal)
Dia 14 de Dezembro foi altura de apanhar o comboio nocturno para Mangalore (conseguímos comprar bilhetes no sistema Taktal (de última hora), porque os bilhetes normais estavam esgotados já há semanas!) e foi nesta companhia e de mais umas quantas baratinhas que seguímos para 15h de viagem até à cidade seguinte, onde vamos estar um mês, agora sim a trabalhar!



Até lá!