As 3
semanas de Cardiologia no Father Muller foram úteis para conseguirmos perceber bem e nos integrarmos na organização do Hospital e do serviço, rever muitos dos temas da Cardiologia (com a ajuda preciosa daquele grande livro "cujo nome não deve ser pronunciado") e claro, ganhar alguma experiência com os doentes desta especialidade.
|
A equipa da Cardiologia |
Ao
longo deste tempo acabamos por perceber que a grande especialidade aqui é a
Medicina Interna, para onde a maioria dos
doentes são encaminhados. As restantes disciplinas médicas são como super-especialidades, mais orientadas
para procedimentos invasivos e
aconselhamento em casos clínicos mais complexos.
Outra diferença é que na
Índia são raros os serviços de Infecciologia. Existem alguns centros
especializados em Medicina Tropical no país, mas a grande maioria dos doentes são tratados pela
Medicina Interna de cada hospital, visto que aqui as doenças infecciosas são uma grande parte das idas ao Hospital. O sul da Índia tem um clima tropical com médias elevadas de temperatura e humidade durante a
maior parte do ano. Isto, juntamente com as condições de higiene e hábitos
culturais como o comer com as mãos e mesmo o comer no chão, fazem com que
estejamos num paraíso não só para nós mas para todos os pequenos seres que
gostam de conviver connosco! E foi nesse contexto que decidimos fazer na Índia a
rotação de Infecciologia que normalmente teria sido no Hospital de Faro.
|
Um aviso importante, mas nem sempre respeitado... |
Fomos colocados na Unidade E da Medicina, com o Dr. Arunachalam e a sua equipa.
Acabamos por perceber que não foi por acaso... como “vinham 2 estrangeiros”
colocaram-nos no serviço com um dos melhores tutores clínicos do hospital, e
isso fez toda a diferença!
|
A equipa da Medicina E |
|
Os médicos mais novos da equipa, que foram uma óptima companhia e ajuda neste estágio! |
Foram
duas semanas muito interessantes, passadas entre as longas rondas pelo
hospital, com discussão sobre cada caso; a consulta externa, sempre com imensos
doentes e as urgências, caóticas e onde se vê um pouco de tudo o que raramente vemos em Portugal. Aproveitamos ainda para ir a algumas
aulas teóricas com os alunos de Medicina e para assistir a discussões
de caso diárias que fazem parte do programa do internato médico. No serviço, acompanhámos uma equipa jovem mas muito dinâmica e trabalhadora e que
nos acolheu muitíssimo bem!
|
Uma das salas de aula do curso de Medicina |
|
Aulas de discussão de caso, com o doente avaliado presente na sala |
A
consulta externa não foi muito diferente do que estamos habituados em Portugal. A maior parte foram seguimentos de pessoas com
Hipertensão e Diabetes, ou que tinham tido alta poucos dias antes mas também acabámos por ver muita patologia reumática
porque o nosso tutor era a pessoa de referência nessa área neste Hospital. Num dos dias foram vistos mais de 200 doentes por 3 especialistas e respectivos internos, tendo sido internados cerca de 25.
|
O material de trabalho da consulta externa |
Nas
urgências, conseguimos ver também alguns casos interessantes, desde tentativas
de suicídio com comprimidos, AVC's, enfartes do miocárdio, crises asmáticas agudas e entre outras uma
mordedura de cobra – aparentemente muito comum, em que o doente, ou melhor, os
familiares que o acompanhavam trouxeram a cobra para o hospital para mostrar
aos médicos. Embora a cobra estivesse morta dentro de um saco, quando o abriram
foi um momento de suspense em que toda a gente se afastou... Nunca se sabe!
|
As ambulâncias mais modernas que servem o hospital |
Explicaram-nos
que as pessoas eram ensinadas a trazer sempre que possível a cobra para o
Hospital para que o médico pudesse identificar a espécie e administrar o antídoto adequado. E claro, para isto os médicos têm que estudar para conseguir distinguir os
diferentes tipos de cobra que por aqui existem e os respectivos tratamentos!
Uma constante nas enfermarias e nas consultas externas e que motivou o nosso interesse neste estágio foram as doenças infecciosas / tropicais a que não estamos habituados em Portugal. Tivémos oportunidade de ver alguns doentes com Malária,
Dengue, Leptoespirose, Filaríase, Esplenomegalia tropical, Tuberculose, Endocardite, Encefalite,
Meningite, Sépsis e Pneumonias... Um bom contacto com a Medicina Tropical para apenas 2 semanas! As discussões teóricas com o tutor foram sempre até ao mais pequeno detalhe e quando deixávamos de
conseguir responder, mandava-nos estudar para a ronda seguinte (o que nós fazíamos no intervalo dos capítulos do Harrison!).
Foram
2 semanas óptimas tanto pelo que pudemos aprender e ver como pelas pessoas que
conhecemos no serviço. No final, ainda recebemos uma carta de recomendação da
parte do Director do Departamento de Medicina do Hospital.
E
assim fechamos o capítulo do Father Muller, mas para já ainda ficamos na cidade
mais uma semana... Nestes últimos dias acabou por surgir a oportunidade de passarmos uma semana no Hospital público da cidade, para onde vão os doentes que não têm condições para pagar o seu tratamento, o
Wenlock (nota: não se deixem enganar pelo aspecto limpinho do site...).
Fomos também convidados para 2 casamentos, um cristão e outro hindu, sendo o primeiro aqui em Mangalore já no próximo fim de semana!
Mas
isso fica para os próximos episódios!
Opá! Eu a pensar que era uma caixa de pasteis de Belém...e era um convite de casamento! =P
ResponderEliminarBeijinho aos 2
Fifi
Pastéis de Belém... Que saudades!!
EliminarTenho me fartado de rir e de aprender com as vossas aventuras, continuem ;) beijinhos para os dois
ResponderEliminarDani